terça-feira, 5 de março de 2013

Nas bordas


Estavam os dois na borda da piscina. Ela avançou. Deu um grande mergulho pra buscar a pedrinha que jogou no fundo. Na volta, o rostinho redondo estampava a satisfação de conseguir o que havia treinado horas no dia anterior.

Ele tentou avançar. Foi um pouquinho além da borda. No dia anterior havia treinado percorrer toda a borda da piscina da casa da avó. Dessa vez, tentou ir um pouco além.  Não conseguiu. Chegou a beber água. Ficou triste, imensamente triste ao sentir seu pequeno plano fracassar. Saiu emburrado. Papo só pra bicho do mato.

Ela, quando o viu deixar a água, ensimesmou. Ficou perdida com sua pedrinha na mão. Alguém maior tentou fazê-la compreender que ele ainda não bem sabia nadar. Ela fez questão de dizer que era como ele, que também só lhe cabiam as bordas.  Disseram a ela que não era problema saber mais que ele. Deu de ombros. Foi atrás dele e repetiu:  olha, eu sou como você, também só posso com as bordas.

Como bons bichos do mato se entenderam. Ela conseguiu depois de algum tempo levá-lo de novo para a água. Arrumou-lhe uma pranchinha de isopor para ele ir além da borda. E lá foram eles juntos até a noite cair.

Ele teve sorte dela ser quem é. Ela sabia que o colo que ele precisava era a sincera mentirinha dela. Ela teve sorte de ter vivido desde que veio ao mundo ao lado de quem nunca teve medo de compartilhar a dor do outro.  

2 comentários:

  1. Que lindo, Mari... Adorei! Saudade de vc!

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    1. Raquelita amada, sinto muitas saudades das nossas conversas na sua aconchegante sala! Queria arrumar um jeitinho da gente se encontrar mais.

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