quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013

Minha mãe PHD


Minha mãe sempre diz, quando está com os netos, que a boca dela enche d’água.  A tradução disso é que com os netos é sempre como se ela estivesse comendo a melhor comida do mundo. Faz muito sentido porque um dos maiores prazeres que ela tem na vida é cozinhar, cozinhar pra encher d’água a boca de quem saboreia as delícias mineiras e árabes que só ela bem sabe fazer.  Hoje, ela completa alguns bons e velhos anos. Hoje, roda mais uma etapa de uma jornada de vida cheia de detalhes áridos: morte do pai aos doze anos por atropelamento, coincidentes doze mudanças de endereço na adolescência, um ano sem escola por puro esquecimento e uma vida financeira digamos fora dos eixos da estabilidade. Tudo isso, claro, lhe renderam algumas boas rugas, mais do que ela desejaria.  Sorte é que se o rosto dela  carrega marcas, a alma traz enormes sulcos de generosidade.  Generosidade essa que faz bolinho de chuva de problemas verdadeiramente grandes. Ao menos comigo foi assim quando passamos juntas por um dos momentos mais difíceis da minha vida. Ela nunca julgou. Nunca, nunca e nunca. Sempre me disse para esperar e ter calma. Foi o que fiz e anda dando muito certo. Voltando a água que enche a boca, preciso dizer que o prazer enorme que ela encontra nos netos, pra lá de um baita amor a eles, na verdade, é um raro dom. Quando eu a vejo cuidando de crianças e simplesmente conseguindo traduzi-las ainda que não falem, eu fico com muito orgulho de ser filha de quem sou. Sei bem que ela carrega certa tristeza por não ter estudado a tal “medicina” dela. Mas como diz a pediatra e psicanalista francesa Francoise Dolto “qualquer um que se empenhe em ouvir a resposta das crianças é uma mente revolucionária.” Por isso minha mãe é minha PHD, sempre a frente de seu tempo...  

Um comentário:

  1. é isso mesmo Mariana, a grandeza nem sempre está, somente, na formação.
    bjo Thiciane

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